deixaste-me magoar-te sem nunca me mostrares o quanto, sem nunca me gritares, sem nunca me mandares embora. inconscientemente, continuei a faze-lo durante muito tempo, até ao dia em que me morreste nos braços. até ao dia em que arrebentaste. até ao dia em que mandaste embora. até ao dia em que caí a uma velocidade tão assustadora que atingi, por fim, o fundo do nosso espaço. é muito difícil perdoar, não é? ainda mais dificil é esquecer, acredita. há coisas que uma pessoa nunca se esquece por mais tempo que passe, por mais mudanças que esse mesmo tempo possa trazer, por mais voltas que a vida dê e tu, és uma delas. tu e o teu jeito de ser; tu e a força do teu corpo junto ao meu; tu e o teu cheiro; tu e o teu sorriso que era meu, só meu. tu e a tua forma de me amar. tu e a tua cama. e o teu quarto. e a tua casa. e a tua família. ninguém foi, é ou será algum dia tão tua como eu fui. e nunca poderás segurar ou moldar alguém como me moldavas e seguravas no teu corpo. não penses que não confiava em ti, não. confiava. tinhas-me na palma da mão; só tu não viste isso.agora ja não confio, já não há nada para confiar. ofereci-te o meu coração numa bandeja, pus as minhas cartas em cima da mesa e mostrei-te o meu jogo. mesmo assim, recusaste-te a mudar a jogada e deixaste o meu coração imóvel. ou então não. não, tu não o deixaste imóvel. pegaste nele e mudaste-o de sitio. levaste-o contigo mas não em ti. dei-te tudo o que tinha. e o que não tinha fui arranjar para te dar. desta vez estava disposta a dar-te tudo, também mas não quiseste, já não me quiseste. não sei ao certo como te descrever agora. ainda te ouço. e ainda te vejo. e sinto. ainda te sinto. só já não te amo. não posso; tu não me deixas.tornaste-te numa pessoa diferente, numa pessoa cobarde. escondes-te numa capa que acreditas que te será útil, que te protegerá do mundo e, acima de tudo, de mim. nunca me vais conseguir apagar-me. a vida não nos concede o privilégio de escolhermos quem queremos apagar, apenas nos concede o privilégio de nos iludirmos. e tu estás iludido. escolheste o caminho que te pareceu mais fácil sem saberes que é, na verdade, o mais difícil. pergunto-me muitas vezes quem estará lá quando tiveres medo, quem te aconchegará de noite quando o frio se apoderar ainda mais de tudo o que nos rodeia, quem te dará beijinhos e abraços e mimos, quem te agarrará a mão e dirá que vai ficar tudo bem, quem se deitará na tua cama e te dará o que eu te dei. pergunto-me e não quero que me digas a resposta. também não a tens. e sei que demorará muito tempo até a teres. sei que já te desiludi muito, mas tu também, pelo que estamos completamente equilibrados. neste momento posso dizer que nunca gostei tanto de ti como gosto agora, da mesma forma que nunca te valorizei tanto como valorizo agora.
saíste daqui, apenas não me levaste contigo.

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